
“Eu sou o menino simples da favela que teve um sonho como todos os outros, só que a dificuldade que tinha na época, com minha família, principalmente, foi o que mais me motivou a ser jogador. O sonho de poder ajudar minha família, jogar em grandes clubes. Hoje, olho para trás e [vejo] tudo que passei, só tenho orgulho da pessoa que me tornei, não como jogador, mas como ser humano, que é o mais importante. É o exemplo que tento dar para minha família e minha filha. Como profissional, como filho, como pai, acho que isso é o mais importante”.
A declaração acima é do jogador de futebol profissional Jair Tavares, cria da periferia de Salvador, em entrevista ao programa Sport+, da Rádio Sociedade. Com a carreira construída na Europa e Oriente Médio, o atleta está de férias na capital baiana e aproveita para matar a saudade de amigos, familiares e da simplicidade da periferia.
Baba, feijoada e pagode
Neste sábado (31), Jair promoveu um baba no campo do Pata-Pata [veja aqui], em Boca da Mata de Valéria, onde aprendeu ainda criança a real dimensão de uma praça esportiva destinada aos jogos de futebol. Além da partida na várzea, teve feijoada e pagode para festejar o sucesso de quem decidiu arriscar saltar o muro da favela.

Durante a entrevista na Rádio Sociedade, na quinta-feira (29), Jair contou que a dificuldade financeira fez que seu futuro fosse traçado por ele muito cedo, aos 11 anos. No mesmo campo do Pata-Pata, lá atrás, determinou que seria jogador de futebol como meio de ascensão socioeconômica.
Jair também contou que viu muitos jovens desistirem do sonho de se tornarem jogadores de futebol devido ao confinamento nos alojamentos. Para ele, não havia plano B.
“Os clubes muitas vezes não olham para esses lugares, é difícil. No meu caso, tentei fazer peneiras em Bahia e Vitória, mas não tive oportunidade e tive que trabalhar como piscineiro para ter o dinheiro da minha passagem para ir embora. Uma criança de 11 anos para fazer isso é muito difícil. Hoje em dia é tudo mais fácil, com internet, uma pessoa ajuda aqui e outra ali, mas naquela época foi difícil. E eu só consegui a passagem de ida, porque estava determinado a ficar. Pela necessidade que eu passava em casa, com minha família, eu tinha que vencer. Fui determinado a ficar. Fui e fiquei, graças a Deus, fui me tornando o que eu queria ser. Muitos querem ser como Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar, mas se todos forem assim, quem que carrega o piano? Tem que ter essa turma e graças a Deus eu consegui e deixo isso como exemplo de luta e superação para quem está chegando agora”, pontuou Jair Tavares.

Trajetória
Com o dinheiro ganho limpando piscinas, Jair comprou passagem e partiu ainda na pré-adolescência para Porto Alegre. Ficou no alojamento do Internacional e depois foi para o Porto Alegre Futebol Clube, time de Assis, irmão de Ronaldinho Gaúcho.
Depois da temporada no Sul do país, seguiu para o interior de São Paulo, onde vestiu camisas do Cotia e do Ituano até ir para a Finlândia. Na temporada passada, Jair defendeu um clube do Irã e seu staff já inicia conversas para a próxima temporada, não descartando propostas no futebol brasileiro.
.